Pesquisadores da Fiocruz Ceará visitam território indígena em Pacatuba

A visita à Unidade Básica de Saúde da Família na aldeia Monguba, em Pacatuba, aconteceu no dia dedicado aos Povos Indígenas, 19 de abril.

Pesquisadores da Fiocruz Ceará, das áreas de Saúde da Família, Saúde Ambiente e Biotecnologia visitaram comunidades originárias no território indígena Pitaguary. No dia dedicado aos Povos Indígenas, 19 de abril, os pesquisadores estiveram na Unidade Básica de Saúde da Família na aldeia Monguba, em Pacatuba, onde puderam trocar experiências e conhecimento, além de pensar iniciativas conjuntas de maneira integrada, buscando atuar na vigilância popular em saúde em benefício dos moradores da região.

A aproximação dos pesquisadores com estas comunidades se deu a partir de dois profissionais de saúde, uma enfermeira e um cirurgião-dentista, que atuam no território dos Pitaguary e são mestrandos do Profsaúde na Fiocruz Ceará. A atividade de campo proporcionou rica experiência. “Pudemos conhecer um pouco mais a realidade dos nossos mestrandos, onde eles atuam, suas comunidades, o cotidiano do trabalho nos territórios indígenas, além de nos aproximar desse contexto cultural, social e ambiental para pensarmos a estruturação da Coordenação de Ambiente, Atenção e Promoção de Saúde, no eixo de uma saúde indígena realmente alicerçada nas necessidades concretas dos territórios”, ratifica Vanira Pessoa, coordenadora da CAAPS, que confirma a proposta de estruturação, na Fiocruz Ceará, de um programa de residência multiprofissional em saúde indígena. “Por isso também a importância de estarmos próximo dos serviços de saúde, em diálogo com os Pajés e lideranças, para entendermos o que é a atenção diferenciada em saúde indígena e como podemos fazer um processo de integração que melhore o percurso do usuário na atenção à saúde aos povos indígenas, dentro de toda a dinâmica da rede, passando pela atenção primária e atenção especializada. Também buscamos oferecer profissionais qualificados na área e avançarmos na melhoria dos cuidados em saúde”, enumera Vanira.

A enfermeira considera a visita ao território “um processo de aprendizado e de partilha para todos, “estabelecendo vínculos, conhecendo a cultura dos nossos povos originários e contribuindo para a garantia dos seus direitos, especialmente o direito à saúde, desenhando novas realidades para problemas complexos em diálogo com os saberes ancestrais. Este é o momento de construirmos esse processo solidário, criativo, inovador e de muito aprendizado”, defende.

Diálogo entre academia e sabedoria popular

Vera Dantas, médica e educadora popular em saúde, também esteve na aldeia e destaca que a visita acontece num momento importante. “A Fiocruz Ceará já atua no território, com ações anteriores voltadas à busca ativa de casos de leishmaniose. Em 2024 acompanhamos novo surto de casos em território próximo, desta vez em Caucaia, e soubemos que essa foi uma das causas da morte do Pajé Barbosa, do povo Pitaguary”.

Segundo Verinha, como é conhecida, a visita se consolida na aliança entre o diálogo da academia e o saber popular. “Reforçamos a importância de construir o intercâmbio da cultura com a espiritualidade. Elas não se separam, são dimensões diferentes de um processo de afirmação da identidade desse povo. A Fiocruz Ceará, no momento em que acolhe trabalhadores das áreas indígenas como mestrandos, produz pesquisas de construção compartilhada do conhecimento com os povos indígenas, reafirma o protagonismo desses povos, ousa e também protagoniza a produção do conhecimento, reafirmando sua pluralidade, importância e sabedoria”, enaltece a Doutora em Educação Indígena.

Continuidade de ações na região

A ação na região é uma continuidade de trabalho da Fiocruz Ceará junto aos Pitaguary. “Já realizamos o inquérito naquela aldeia em decorrência da hospitalização do Pajé Barbosa, líder principal da aldeia, acometido na época justamente por leishmaniose visceral. O trabalho aconteceu nos territórios da aldeia em Pacatuba e Maracanaú. Pelo diagnóstico diferencial realizado, foram identificados cães doentes e a presença de vetores. A atividade agilizou a retirada dos animais e ações de borrifação química de várias residências da aldeia”, ratifica Giovanny Mazzarotto, biólogo e médico veterinário da Fiocruz Ceará. “Na época, foram borrifadas cerca de 270 residências, para o qual recebemos apoio intenso da Secretaria de Saúde do Estado, por meio da Veterinária Ana Paula. O trabalho agora é intensificar o monitoramento nos locais já conhecidos e programar incursões nos locais que ainda não receberem visitas técnicas, sempre prezando por uma construção conjunta com os municípios avaliados e a SESA. Somente deste modo podemos identificar os problemas reais da região e buscar soluções efetivamente harmonizadas entre os entes federados para mitigar esses problemas”, pondera.

O tecnologista afirma ainda ter aberto um amplo diálogo com o setor de endemias e zoonoses do município de Pacatuba para desenvolver não só trabalho de treinamento e inquérito de leishmaniose canina com os agentes de saúde e endemias, mas também propor outros trabalhos na área de acompanhamento sorológico em animais vacinados com antirrábica e exames dos primatas que têm aparecido mortos na região. “Nosso foco é principalmente primatas, uma vez que a região é conhecida como área de soltura de animais apreendidos do tráfico e devoluções voluntárias, para tentar identificar se naquele local tem se formado um cinturão de animais contaminados, seja por febre amarela,  outras arboviroses e herpesvírus. O nosso objetivo é que os resultados obtidos possam contribuir diretamente para as ações do Centros de Triagem de Animais Silvestres/IBAMA e órgãos locais de controle de endemias e zoonoses”.

Mazzarotto considera que há um grande cenário de trabalhos para serem realizados na região de Pacatuba, que começou com a questão dos indígenas da aldeia dos Pitaguary, mas que está se propagando para outros setores dentro do município. “Estamos acompanhando os dirigentes indígenas e fazendo gestão compartilhada, junto à Secretaria de Meio Ambiente, para buscar melhorias nas instalações dos animais de criação, nesse caso de suínos, para garantir um melhor saneamento da população onde esses animais são criados, minimizar a população de vetores e mitigar a contaminação de leitos de água pelos dejetos dos animais. São várias as ações que estão em andamento a partir deste segundo ciclo de atuação da Fiocruz Ceará na região, desta vez de forma mais consistente e com amplo diálogo e aval das lideranças indígenas e dos órgãos de vigilância do município e do Estado”,

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