Workshop sobre Biologia Computacional discute potenciais e limitações da área

Abertura conjunta evidencia diálogo da Ciência.

A Fiocruz Ceará realizou, na manhã do dia 8 de fevereiro de 2023, a abertura conjunta de dois eventos importantes com a marca do diálogo e da inclusão: o workshop de Modelagem Computacional e Desenho de Fármacos e o Meninas e Mulheres na Ciência. Enquanto o primeiro é voltado para alunos de pós-graduação, pós-docs e pesquisadores da área de Biologia Computacional, o segundo busca estimular e aproximar meninas do mundo científico.

João Hermínio Martins, coordenador de Pesquisa da Fiocruz Ceará e organizador do workshop, saudou os presentes, destacou o caráter de diálogo e de troca de experiências entre os pesquisadores e ratificou que, ao longo dos três dias de evento, serão abordados temas de vanguarda na área de bioinformática estrutural. “Estamos na segunda edição do workshop. A pandemia adiou nosso encontro, mas optamos por esperar para garantir que ele fosse realizado de forma presencial e, assim, enriquecer o debate e as conexões”, afirma.

A coordenadora geral da Fiocruz Ceará, Carla Celedônio também enalteceu a iniciativa do encontro e o caráter de troca de experiências. “Esta é também uma marca da Fiocruz Ceará. Em 2023, comemoramos os 15 anos de atuação da instituição aqui no nosso Estado. Iremos elaborar uma agenda de eventos para dar maior visibilidade às atividades que estamos desenvolvendo aqui e este encontro certamente é uma grande oportunidade de dialogar, trocar experiências e conhecimento”, ratifica.

Carla destacou que, ao longo dos anos, a Fiocruz Ceará expandiu sua atuação, incialmente focada no fortalecimento da estratégia de saúde da família e o desenvolvimento de um polo tecnológico e industrial na cidade do Eusébio. “Com muitas mãos, ampliamos e construímos novas frentes de atuação, com as plataformas biotecnológicas integradas, os novos grupos de Saúde e Ambiente, a Unadig e a vigilância genômica, por exemplo. E ainda temos muito a avançar, com a chegada do Instituto Pasteur e o início das atividades de Bio-Manguinhos”, projeta.

Sharmenia Nuto, coordenadora de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz Ceará, também destacou a relevância da iniciativa de as áreas desenvolverem ações de forma conjunta. “Essa troca de conhecimento é forte marca e grande legado da Fiocruz Ceará. Aqui não somos só cobrados enquanto pesquisadores, por nossas produções científicas, mas também em como podemos colaborar de forma efetiva com a sociedade. Por isso iniciativas como esta, de socialização de conhecimento, são tão importantes”, enaltece.

Potencial da Biologia Computacional na economia de tempo e recursos

A expectativa é que, com o aprimoramento de moléculas e técnicas de pesquisa, seja possível ultrapassar barreiras e levar os medicamentos ao consumidor final, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). (Foto: Sheila Raquel)

O pesquisador João Hermínio Martins enfatizou que a Biologia Computacional tem potencial de promover economia de recursos, maior celeridade, precisão e eficácia no desenvolvimento de biofármacos e outras soluções biomédicas.  “Então é possível economizar recursos, utilizando menos animais, consumindo menos plásticos, menos reagentes de laboratório e possibilitando alcançar resultados preditivos que substituem parcialmente os resultados experimentais. É possível avançar, queimar etapas e chegar mais rápido ao resultado, barateando o custo. Há ferramentas que simulam, inclusive, interação entre células, simulando vias bioquímicas, por exemplo”, explicou.

Segundo o pesquisador, esse é o grande objetivo nas discussões do Workshop: Apresentar e discutir potenciais e limitações da área que pode substituir parcialmente o trabalho de bancada em laboratório, ou atuar como ferramenta complementar. O evento focou em medicamentos e fármacos com potencial farmacológico, ou seja, moléculas obtidas da natureza, ou de banco de dados, ou purificadas de alguma forma, ou sintéticas que tenham algum uso farmacológico. “O evento buscou discutir a funcionalidade das ferramentas computacionais dentro do contexto de pesquisa biomédica, fazendo com que os participantes entendessem como aplicar esses conceitos dentro dos seus próprios trabalhos, sejam eles de mestrado, doutorado ou projetos de pesquisa”.

O propósito maior, acrescenta Martins, é que com o aprimoramento de moléculas e técnicas de pesquisa seja possível ultrapassar barreiras e levar os medicamentos ao consumidor final, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). “Nossa grande meta é que esses medicamentos trabalhados hoje no computador se tornem reais e cheguem às farmácias para que a população se beneficie. É preciso pensar sempre no coletivo, nosso consumidor final, que é o usuário do SUS. E para ele que a gente produz essas moléculas, os fármacos, e gera esses produtos”. 

Na visão de Ana Carolina Guimarães, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz – Fiocruz e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Biologia Computacional de Sistemas, o desenvolvimento dos projetos em Biologia Computacional gera resultados importantes e produtos que podem ser incorporados ao SUS. Por isso a importância do evento, sublinha ela, tendo em vista a escassez de formação profissional na área, especialmente de modelagem molecular. “Esse evento contribui muito na formação e no desenvolvimento desses projetos, pois a Biologia Computacional tem a grande vantagem de acelerar processos. Hoje em dia ninguém faz a bancada molhada, a parte experimental, assim como a Biologia Computacional não funciona sem a validação experimental”, avaliou ela ao elogiar a estrutura do Workshop, “que foi bastante complementar e necessária”.

A Doutoranda em Biologia Computacional de Sistemas, Beatriz Chaves, concordou com a importância das tecnologias nesta área, possibilitando primeiro uma análise computacional para depois passar a fase de bancada e testes em animais. “Ressaltamos para a equipe que quando se faz uma avaliação computacional de um anticorpo e ele começa a dar problema não adianta insistir que isso vai continuar nas próximas fases”.

Segundo a pesquisadora, a Biologia Computacional é fundamental para seu projeto que visa a encontrar novas formas e alvos no desenho de novos biofármacos que servirão para o tratamento de esclerose múltipla. “O que é mais interessante é que como as ferramentas computacionais são muito dinâmicas, elas se atualizam o tempo todo. É muito interessante ver que um programa que eu utilizava em 2019, hoje em dia tem uma ferramenta muito melhor e com isso eu consigo melhorar o meu trabalho”, finalizou ela sobre o intercâmbio de experiências do Workshop.

Sobre o Workshop

Os Organizadores do Workshop de Modelagem João Hermínio Martins e Geraldo Sartori.

O Workshop de Modelagem Computacional e Desenho de Fármacos aconteceu entre 8 e 10 de fevereiro, reunindo alunos de iniciação científica, pós-graduação e pesquisadores na área, vinculados a instituições de quatro estados: Universidade Federal do Ceará (UFC), Instituto Federal do Ceará(IFCE), Universidade Estadual do Ceará (UECE), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Piauí (UFPI), Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz RJ) e alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, campus Macaé. O evento foi realizado pela Fiocruz Ceará e Instituto Oswaldo Cruz, com apoio da CAPES.

Participaram do encontro o Dr. Alejandro Buschiazzo (Instituto Pasteur Montevideo), Dra. Alessandra Mendonça Teles de Souza (UFRJ); Dra. Ana Carolina Ramos Guimarães (FIOCRUZ/IOC); Dr. Bruno Lopes de Sousa (UECE); Dr. Carlos Alberto Montanari (Instituto de Química USP/São Carlos); Dr. Ernesto Raul Caffarena (FIOCRUZ/PROCC); Dr. Pedro Henrique Monteiro Torres (UFRJ) e o Dr. Samuel Silva da Rocha Pita (UFBA).

Por: Carolina Campos e Sheila Raquel.

Palestrantes e organizadores.
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