Pesquisa indica danos ao sistema nervoso central em pacientes com chikungunya

Febre e dor nas articulações. Os sintomas são conhecidos e causados pelo vírus chikungunya,mas um recente estudo internacional, indica que o vírus também pode ter relação com infecções no sistema nervoso central. A pesquisa produzida pela Universidade Federal do Ceará, conta com a colaboração de 38 pesquisadores, de 13 instituições nacionais e internacionais, entre elas, a Fiocruz Ceará. O estudo aponta que o vírus pode infectar o Sistema Nervoso Central (SNC) e comprometer as principais funções motoras do paciente.


O artigo “Fatal outcome of chikungunya virus infection in Brazil” publicado esse mês na Clinical Infectious Diseases, revista editada pela Universidade de Oxford e um dos principais periódicos do mundo na área de ciências médicas, é resultado do projeto de pesquisa de Doutorado de Shirlene Telmos, orientada pelo Dr. Fábio Miyajima, Pesquisador da Fiocruz Ceará e professor do Programa de Pós Graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal do Ceará (UFC), com coorientação do Dr. Luciano Pamplona, professor do PPG em Saúde Pública também da UFC e colaboração do Ph.D William Marciel de Souza, pesquisador da USP, além de mais 34 pesquisadores. 


“Os achados do nosso estudo deverão contribuir para futuros estudos e, também, para alertar sobre possíveis fatores de gravidades e ajudar em novas pesquisas sobre tratamento.”, explica Shirlene.

O estudo investigou dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais no maior estudo transversal que relaciona infecção do sistema nervoso central e óbitos causados pelo vírus chikungunya. De acordo com a doutoranda Shirlene Telmos, foram analisadas amostras de 100 óbitos que resultaram em 68 casos fatais por Chikungunya em alguma metodologia utilizada. Desses 68 óbitos, 36 possuíam o vírus do Chikungunya no líquor e 4 pacientes tinham o vírus no tecido cerebral, reforçando a correlação do Chikungunya com sinais e sintomas neurológicos em pacientes infectados com o vírus.

A presença do vírus no cérebro dos pacientes que foram a óbito, indica que o vírus consegue ultrapassar a barreira hematoencefálica e causar infecções no cérebro e na medula espinhal. Os pesquisadores também conseguiram sequenciar, pela primeira vez, o genótipo do Chikungunya que circulou na epidemia de 2017 no Ceará, através de técnicas de sequenciamento. O ECSA (Centro Leste Sul Africano) foi o genótipo encontrado nas amostras analisadas.

O Ceará liderou em números de casos de chikungunya em 2017. Foi o maior surto da doença nas Américas, com 105 mil casos suspeitos e 68 mortes confirmadas por CHIKV no nosso estudo. Os sintomas mais comuns da doença são febre aguda, cefaleia, erupção cutânea e intensas dores articulares e musculares.

A documentação dos dados coletados durante a epidemia foi realizada pelo Serviço de Verificação de Óbitos da Secretaria de Saúde do Ceará. A partir dessas informações, os pesquisadores puderam avançar nas investigações, realizando um estudo muito completo sobre o surto. Amostras de sangue e líquor dos infectados foram submetidas a métodos de análises genômicas, como RT-PCR (teste capaz de identificar o material genético do vírus) e MInION (tecnologia que permite sequenciar rapidamente o genoma viral). Também foram realizadas análises de imuno-histoquímica (para avaliar amostras de tecidos) e exames para detectar a presença de anticorpos contra o vírus chikungunya.

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