Fiocruz Ceará realiza atividades em alusão ao Abril Indígena
A Fiocruz Ceará soma-se a outras instituições do país para marcar o mês dedicado à visibilidade de culturas, tradições e lutas dos povos indígenas. O Abril Indígena, do qual a Fiocruz faz parte, busca promover saúde para a população brasileira e mitigar os efeitos das desigualdades sociais. Com o apoio da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS), a Coordenação de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (CAAPS) realizou a “Jornada da saúde indígena – Abril de lutas em defesa da vida”. O apoio se deu por meio de uma chamada interna de incentivo à divulgação científica, comunicação e mobilização social.




As atividades foram iniciadas no dia 24 de abril, com o seminário: “Trajetórias e experiências da saúde indígena na atenção, gestão, educação e pesquisa”. Reunindo comunidade acadêmica, profissionais e gestores da saúde e usuários do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena do Sistema Único de Saúde (SASI-SUS). O encontro foi conduzido por Vanira Pessoa, coordenadora da CAAPS e contou com a participação de Lucas Guerra Carvalho de Almeida, coordenador Distrital de Saúde Indígena do Ceará; da médica Vera Dantas, que tem uma longa experiência na saúde da família em territórios indígenas do Ceará; e da sanitarista Maria da Graça Luderitz Hoefel, professora do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB).
O encontro discutiu vivências e experiências do cotidiano da gestão do SASI-SUS no Ceará; refletiu sobre a trajetória histórica da atuação médica na atenção primária à saúde em territórios indígenas no Estado e os desafios da articulação da integração entre pesquisa, educação e serviços e ainda apresentou como a universidade tem experimentado a implantação de políticas e serviços para acolher estudantes indígenas na graduação e no espaço universitário.
Visita aos territórios
A programação prosseguiu nos dias seguintes, com ações realizadas em Crateús, município localizado a mais de 350 km da capital cearense. No dia 25 de abril, foi realizada vivências de práticas de cuidado com os estudantes de medicina do 4º semestre do curso de Medicina da Faculdade de Ensino e Cultura do Ceará (FAEC) de Crateús e uma mesa redonda organizada pelo coordenador do curso de Medicina, Leandro Araújo, que discutiu “Como garantir o direito à saúde das populações do campo, da floresta, das águas e dos povos indígenas no Ceará a partir da experiência do Serpovos”.



No dia seguinte (26), os pesquisadores da Fiocruz Ceará, Ana Cláudia Teixeira (coordenadora de Educação, Informação e Comunicação) e Vanira Pessoa (coordenadora da CAAPS e do Serpovos) participaram de uma reunião com professores e estudantes de graduação dos cursos de Enfermagem, Medicina e Geografia da Faculdade de Educação e Ciências de Crateús (FAEC), da Universidade Estadual do Ceará (UECE); do Instituto Federal do Ceará (IFCE) e da Faculdade Princesa do Oeste (FPO), além da participação de doutorandas em Saúde da Família e da pós-doutoranda Vera Dantas, da Fiocruz Ceará, para formação e alinhamentos interinstitucional com objetivo da construção de um grupo de pesquisa para desenvolver estudos e pesquisa sobre a Saúde das Populações do Campo, da Floresta, das Águas e dos Povos Indígenas nos sertões de Crateús.



No dia 27, a equipe de pesquisa realizou atividade de devolutiva de resultados de pesquisa no interior de Novo Oriente, junto as populações das águas, atingidas pela mineração. As atividades prosseguiram no dia seguinte (28) nas aldeias dos municípios de Quiterianópolis (Vila Nova, Fidelis e Croatá) e de Novo Oriente (Aldeia Lagoinha).
Nas Aldeias, a equipe de pesquisadores visitou escolas, unidades de saúde, hortos de plantas medicinais, central de manejo de resíduos sólidos e dialogou com professores das escolas, com Agentes Indígenas de Saneamento (AISAN), Agentes Indígenas de Saúde (AIS), e outros profissionais da saúde, pajés, cacique, lideranças indígenas e parteiras sobre as necessidades de saúde dos povos da região.
De volta a Crateús, a programação dos dias 29 e 30 de abril ocorreu na Aldeia Realejo, onde foram realizadas oficinas participativas para refletir coletivamente sobre aspectos históricos, sociais, culturais, ambientais e climáticos das comunidades dos três municípios, fortalecendo o senso de pertencimento e a conexão com o território.



No dia 30 de abril, Vanira Pessoa e equipe realizaram junto com aproximadamente 30 indígenas dos Povos Potiguara, Tabajara, Kalabaça, Kariri e Tupinambá um “Mapeamento participativo”. Os participantes elaboraram mapas de Quiterianópolis, Novo Oriente e Crateús demarcando os territórios indígenas, com as aldeias, demonstrando o cenário atual das comunidades, buscando evidenciar as ameaças e o que promove a vida no território, considerando as dimensões ambientais, climáticas, culturais, sociais, econômicas e de saúde”, ratifica Vanira, coordenadora da pesquisa.
A partir do mapeamento foram priorizados os problemas e traçado um plano de ação por territórios. O plano de ação foi elaborado com pajés, caciques, lideranças indígenas, mulheres indígenas, praticantes das medicinas, profissionais do DSEI que atuam nos territórios e pesquisadores. Foram destacados diversos problemas, mas prioritariamente o acesso água potável em quantidade e qualidade nas Aldeias e as violências, impactos da mineração, requerem ações imediatas, a médio e a longo prazo.
Devolutivas

Na Jornada de Saúde Indígena em Defesa da Vida houve ainda, no dia 2 de maio, atividades em alusão ao mês de mobilização na Escola Indígena Anacé Joaquim da Rocha Franco, localizada na Grande Aldeia Kauipe, em Caucaia, que contou com a participação dos pesquisadores da Fiocruz Ceará Fernando Carneiro (coordenador do Participatório em Saúde e Ecologia de Saberes), Ana Cláudia Teixeira, Vera Dantas, Soraya Tupinambá, Ana Caroline Mendes, comunidade escolar e CREDE/Caucaia. Na ocasião, foram realizadas Roda de Toré; apresentação do Novo Toré do Kauype; exibição do episódio “Onde caminha o grande espírito”, da WebSérie Vigia Povo; entrega dos Guias de Vigilância Popular em Saúde e do Prêmio simbólico Omama; Oficinas de Conversa Desenhada e de Grafismo Indígena, além de apresentações culturais, exposição de artesanatos e feira de sabores.



Paulo Anacé, liderança indígena do Povo Anacé, enalteceu a jornada. “Foi um momento muito rico, com muita troca de conhecimento sobre cultura, ancestralidade, saúde e educação. Teve troca de experiências, seja na educação indígena, seja na saúde indígena, e todos os elementos que ela compõe. Com a exibição da WebSérie, o povo Anacé se viu e fez parte no episódio onde mora o grande espírito, assim como ver a entrega do exemplar do Guia de Vigilância Popular em Saúde e do Prêmio simbólico Omam, que tanto representa para nós a força e a luta dos povos indígenas. Essa vivência foi muito importante, tudo foi muito especial, com a participação tanto do povo, como das crianças, com os professores e vai ficar conosco para sempre na memória. Esperamos que, em breve, essa iniciativa possa ser repetida”.
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