Fiocruz Ceará tem projeto aprovado no Programa Centelha
Por: Amanda Sobreira (Fiocruz Ceará)
Um projeto da Fiocruz Ceará foi aprovado no Programa Centelha, que visa estimular a criação de empreendimentos inovadores e disseminar a cultura empreendedora no Brasil. Trata-se do desenvolvimento de um software aplicado à realidade virtual para pacientes em reabilitação pós Acidente Vascular Cerebral (AVC), com objetivo de aumentar a neuroplasticidade do paciente e ser mais efetivo no processo de neuroreabilitação. A proposta é utilizar realidade virtual como alternativa à terapia por espelho, proporcionando assim, maior imersão do paciente. A técnica potencializa a percepção do cérebro da existência de um membro sadio no lugar do parético.
O programa nacional teve 856 ideias inscritas no Ceará e selecionou 28 projetos estaduais para oferecer capacitações, recursos financeiros e suporte para transformar ideias em negócios de sucesso. O projeto selecionado na Fundação é de autoria do pesquisador Cássio Pinheiro, doutorando em Ciências, Biotecnologia e Saúde da Fiocruz Ceará, e conta com a orientação do pesquisador da área de biotecnologia da unidade regional da Fiocruz, Marcos Lourenzoni, especialista em Ciências, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública.
Orientado por um profissional de saúde, o paciente, utilizando óculos de Realidade Virtual (RV), poderá simular atividades de cotidiano nos cenários virtuais, enquanto sensores captam os movimentos das palmas das mãos e dos 10 dedos do paciente. Esses dados servirão como base para avaliar e acompanhar a evolução do tratamento nos aspectos de melhoria da circulação, lubrificação das articulações e manutenção da flexibilidade.
A solução inclui imersão total, proporcionada pelos óculos de RV, ampliando a neuroplasticidade e apresentando resultados mais positivos com a relação à terapia por espelho tradicional reduzindo tempo de reabilitação do paciente e, portanto, custos. Através de uma ferramenta de Business Intelligence (BI), desenvolvida usando a base de dados gerada pelos sensores, será possível quantificar com precisão informações de espacidade, velocidade dos movimentos, angulação dos membros e precisões das ações durante o período de tratamento, beneficiando a qualidade da reabilitação.
A solução pode ser utilizada para recuperação completa dos pacientes no tratamento domiciliar, com acompanhamento remoto feito com o auxílio do BI (inteligência artificial) e de profissionais de saúde. “Esse é um importante aspecto em tempos de pandemia, para os pacientes que necessitam do tratamento, mas possuem dificuldade em se locomover até um centro de terapia. Certamente, essa solução é um importante instrumento de telemedicina”, defende o coordenador do projeto, Marcos Lourenzoni.
Para o pesquisador Cassio Pinheiro, o uso de realidade virtual no processo de neuroreabilitação abre uma janela de oportunidades na recuperação dos pacientes. “Diante do avanço tecnológico, os ambientes imersivos em realidade virtual estão cada vez mais realistas e estimulantes. Nossa proposta é transformar um tratamento clínico em algo lúdico e prazeroso, simulando o cotidiano e aumentando a eficiência,” explica o especialista.
O AVC é responsável por 100 mil mortes por ano no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. A doença é a principal causa de invalidez no mundo, quando em média 1 a cada 6 pessoas terá sequelas que podem incapacitá-las para qualquer tipo de atividade. A reabilitação deve ser realizada por uma equipe multiprofissional e o início imediato do tratamento é determinante na recuperação do paciente.
O uso da informática no processo de reabilitação neurológica tem sido cada vez mais utilizado pelos profissionais de saúde por possibilitar um tratamento mais efetivo, rápido, de menor custo e maior qualidade. A validação do produto desenvolvido pelos pesquisadores da Fiocruz Ceará será realizado no Hospital Geral de Fortaleza, que conta com uma Unidades de Acidente Vascular Cerebral (U-AVC), considerada uma das maiores e mais renomadas do país na área, atendendo mais de 1900 casos de AVC por ano. O produto será testado em mais de 100 pacientes e validado clinicamente.