Pesquisadores do Nordeste avaliam relação entre comorbidades e óbitos por Covid-19

Distribuição do número de comorbidades simultâneas que resultaram em morte do paciente por ADRS. 

Uma pesquisa liderada pela Fiocruz Ceará em parceria com pesquisadores da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) avaliou a relação das comorbidades na mortalidade Síndrome de Desconforto Respiratório Agudo (SDRA), nos últimos anos diretamente associada à Covid-19. O resultado das análises surpreendeu os pesquisadores.   

Consolidado na literatura o fato de os pacientes terem uma comorbidade aumenta a sua vulnerabilidade, tanto para sintomas mais graves quanto para período de internação e óbito, os pesquisadores buscaram entender a relação entre estas doenças e a evolução da Covid-19. “A pesquisa tinha a hipótese de quanto maior a quantidade ou a combinação de comorbidades maior seria a proporção de casos de mortes. Mas a resposta que tivemos ao avaliar este banco de dados nos trouxe uma surpresa: ao final percebemos que as mortes estiveram mais associadas não à presença combinada de comorbidades, mas à presença isolada, principalmente em pacientes de diabetes e obesidade”, ratifica Márcio Flávio Moura de Araújo, pesquisador da Fiocruz Ceará.

O coordenador do estudo acrescenta que o resultado das análises leva a refletir que não é a combinação das doenças, mas sim o estágio atual de gerenciamento delas que determina a evolução e a gravidade da doença. “O diabetes e a obesidade, as doenças mais encontradas nos estudos, são crônicas e inflamatórias. Sabemos que a Covid-19 também desenvolve um quadro inflamatório. Se essa pessoa é acometida por uma infecção relacionada à Covid-19 ela potencializa esse quadro inflamatório e aumenta a chance de sinais e sintomas mais graves, maior duração de tratamento e internação levando, muitas vezes, ao óbito. Isso sem contar nas sequelas, denominada Pós-Covid”, avalia Márcio Araújo.

Sobre o estudo

O diabetes, isoladamente, foi a doença relacionada com maior impacto nos desfechos de morte, seguida da obesidade e da hipertensão arterial. A pesquisa analisou os registros clínicos de vigilância epidemiológica do Sistema de Informações de Covid-19 – uma plataforma do Ministério da Saúde onde eram notificados todos os casos de pacientes diagnosticados com a doença que passavam por atendimento em algum serviço de saúde, público ou privado. O estudo compreendeu o período de março de 2020 a janeiro de 2022, quando foram registrados 386.567 casos de SDRA no sistema de notificação do Maranhão, incluindo pacientes de outros estados e até estrangeiros. A taxa de mortalidade por Covid-19 em pessoas com alguma condição crônica foi de 38.7% ao longo dos anos analisados, com maior predominância no sexo masculino, pardos e idosos.

Tanto os pacientes que evoluíram para recuperação (48,4%) quanto para óbito (20,5%) apresentavam apenas uma comorbidade, respectivamente. As comorbidades isoladas com maior impacto nos desfechos de morte foram diabetes, seguida por obesidade e hipertensão, mesmo após ajuste para sexo e número de comorbidades simultâneas. Diabetes e obesidade, como condições isoladas, tiveram maior influência no número de óbitos de pacientes clínicos com SDRA em comparação com aqueles com diagnóstico mútuo de diabetes, hipertensão e obesidade.

As taxas de mortalidade de pacientes clínicos com comorbidades, hospitalizados por SDRA com presença simultânea de diabetes, hipertensão e obesidade, não apresentaram diferença significativa se comparado aos que apresentavam uma dessas comorbidades individualmente ou uma combinação de hipertensão e diabetes. Ao contrário, maior impacto nos desfechos de óbito foi observado em pacientes com presença isolada de diabetes ou obesidade.

Saiba mais sobre a pesquisa AQUI.

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