Pesquisadores da Fiocruz Ceará e de órgãos intersetoriais realizam ações de combate à leishmaniose em municípios cearenses

Em Baturité, foram altos os índices altos de positividade, acima de 20% dos cães triados.

A leishmaniose representa um grave problema de saúde pública e o Estado do Ceará tem bastante representatividade sobre a pesquisa e o acompanhamento da doença a nível nacional. Um dos pilares para controle da enfermidade é a educação em saúde, sendo a preocupação em capacitar e treinar os profissionais na prevenção e controle da doença é fundamental para a redução de casos.

“Como ferramenta de tentar conter o avanço da leishmaniose no Estado, realizamos um curso de atualização, reunindo agentes de saúde e de endemias da região do Maciço de Baturité, com a participação de representantes da Fiocruz Ceará, Fiocruz RJ e Laboratório de Vetores Reservatórios e Animais Peçonhentos Dr. Thomaz Aragão da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa)”, informa Giovanny Mazzarotto, biólogo e médico veterinário da Fiocruz Ceará. Visando esta maior formação, foi realizada em Baturité, entre os dias 8 e 11 de novembro, uma capacitação e treinamento com um inquérito sorológico canino. Durante a ação, foram aplicados testes de triagem pelo TR DPP® Leishmaniose Visceral Canina, com altos índices de positividade no município.

Mazzarotto ratifica que as atividades lideradas pela Fiocruz Ceará não se encerram com as visitas técnicas. Ele destaca a atuação da instituição como agente indutor de políticas públicas no Estado no sentido de promover o intercâmbio com outras Regionais e aproximações dos agentes dos Estado de diferentes municípios, buscando um maior aperfeiçoamento. “Nosso intuito é trazer médicos do Rio de Janeiro para desenvolver oficinas voltadas para os profissionais do município que também deverão entrar nessa força-tarefa contra a doença. A leishmaniose visceral ainda é muito presente no Ceará e os médicos não têm tanto conhecimento quanto ao diagnóstico, tratamento e acompanhamento de maneira adequada”, considera.

Além da ação em Baturité, um apelo de uma comunidade do município de Pacatuba, localizada na Região Metropolitana da Fortaleza, também mobilizou uma equipe de pesquisadores da Fiocruz. A suspeita de um caso de leishmaniose visceral no pajé de uma aldeia da região levou a equipe multidisciplinar a visitar a área. Apesar de negligenciada, a doença é uma das que mais afeta países em desenvolvimento, sendo considerada endêmica na região. Além da Fiocruz Ceará, também participam das visitas representantes da Fiocruz Manaus, Fiocruz Rio de Janeiro, da Sesa, Regional de Saúde além de agentes de saúde e de endemias do município.

Participaram da ação pesquisadores da Fiocruz de Manaus, Fiocruz Ceará, Sesa e Coordenação de Zoonoses de Pacatuba.

Em meados de outubro, foram instaladas armadilhas para detectar a presença do vetor da doença, o flebotomíneo que possui como principal espécie transmissora o Lutzomya longipalpis. Nesta fase inicial, participaram pesquisadores da Fiocruz de Manaus, Fiocruz Ceará, Sesa e Coordenação de Zoonoses de Pacatuba. A partir desta ação, liderada peplo pesquisador da Fiocruz Ceará Giovanny Mazzarotto, a equipe considerou a necessidade de ampliar o inquérito canino e realizar coletas em cães positivos para identificar e espécie de Leishmania circulante na aldeia, realizado dos dias 12 a 15 de novembro, em Pacatuba. “Concluímos essa segunda etapa, com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde na condução do inquérito sorológico canino e com a ampliação de análises dos cães na aldeia, em Pacatuba”.

Também foram realizadas pesquisas em Maracanaú, município da região Metropolitana de Fortaleza. As equipes conduziram um inquérito sorológico canino inicial que terá continuidade com a equipe de zoonoses do município. “Encontramos índices altos de positividade dos cães triados também em Maracanaú. As amostras de sangue coletadas nas duas cidades (Pacatuba e Maracanaú) foram encaminhadas para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), enquanto as amostras de tecido para diagnóstico da espécie de Leishmania foram encaminhadas aos laboratórios de referência da Fiocruz. Após as duas ações ficou clara a necessidade de se desenvolver um trabalho contínuo nos municípios cearenses, não apenas para leishmaniose, mas também para outras doenças endêmicas que tanto assolam o Estado”, ratifica Mazzarotto.

O pesquisador confirma a captura do Lutzomya Longipalpis, vetor da leishmaniose. “Foi um achado de certa forma inesperado, devido ao período seco. Isso reforça a necessidade de se ampliar o trabalho com os cães e os resultados poderão orientar as medidas de controle químico dos vetores e dos reservatórios caninos no local”, analisa.

Intensificar ações de acompanhamento e prevenção, além de treinar os agentes da área, poderão minimizar o avanço de casos

Para o biólogo, intensificar ações de acompanhamento e prevenção nas regiões, além de treinar os agentes da área, poderá minimizar o avanço de casos. “Tanto a instalação das armadilhas para os vetores quanto o inquérito canino ampliado poderão direcionar os municípios de Pacatuba, Maracanaú e de Baturité a tomarem medidas pontuais de controle químico de vetores no local, orientar a população quanto à utilização do inseticida, além de reforçar a questão da educação ambiental”, considera.

A coordenação estratégica das atividades e a articulação das parcerias são da Fiocruz Ceará, que também atua na execução em campo. Já a coordenação técnica é liderada pelo veterinário Artur Mendes Júnior e pelo técnico em saúde pública Adilson Benedito, ambos do Lapclin-Dermzoo (Instituto Nacional de Infectologia) Fiocruz RJ e a coleta, triagem e identificação entomológica pela Fiocruz Manaus.

Toda esta ação tem participação direta para a criação da Rede de Vigilância e Pesquisa Norte-Nordeste em Zoonoses, que visa a instalação de uma rede de apoio no combate, controle e pesquisa nessas doenças.

Saiba mais

A Leishmaniose Visceral é uma doença grave, causada pelo protozoário Leishmania chagasi, que é transmitido através da picada de um inseto chamado flebotomíneo (Lutzomyia longipalpis), popularmente conhecido por mosquito palha e que pode atingir pessoas e animais, principalmente o cão. Esse tipo de leishmaniose afeta os órgãos internos, geralmente baço, fígado e medula óssea. Algumas pessoas não apresentam sintomas. Em outras, os sintomas podem incluir febre, perda de peso e inchaço do baço ou fígado. Existem medicamentos para eliminar os parasitas. Se não forem tratados, os casos graves costumam ser fatais, por isso a importância do diagnóstico precoce.

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