Pesquisadores da Fiocruz Ceará estudam onças – pintadas no Pantanal, sob a perspectiva One Health
Pesquisadores estudam Onças-pintadas no Pantanal. Foto: Gabriela Schuck
Os rápidos efeitos das mudanças climáticas têm tornado o conceito de One Health cada vez mais relevante, na perspectiva de abordagens interdisciplinares que tratam de questões ligadas à saúde e epidemiologia. Em bom português, a Saúde Única trabalha com uma visão integrada entre animais, saúde humana e meio ambiente.
Nesse contexto, e como reflexo da cooperação internacional entre a Fiocruz e a Universidade de Aveiro (UA), pesquisadores da Fiocruz Ceará, e do One Health Lab da Plataforma Internacional para Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PICTIS), trabalham integrando a pesquisa sobre onças-pintadas e pardas na maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do Brasil, a RPPN Sesc Pantanal. O trabalho desenvolvido em parceria com o Museu Nacional e pesquisadores do Grupo de Estudo em Vida Silvestre (GEVS), inclui estudantes da UA e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) buscando monitorar os animais para estudo do comportamento deles no ambiente, das presas e o mosaico de paisagens onde estão inseridas.
Programado para 19 dias, o trabalho de campo resultou na primeira captura após 12 dias de espera. Foram coletadas amostras biológicas para avaliação da condição sanitária do animal e pesquisa de patógenos associados com potencial zoonótico. Através do uso de uma coleira colocado no animal capturado, será feito o monitoramento via satélite, para observar sua atividade, o estudo das relações do animal com a paisagem, a interação com outros indivíduos também monitorados, e a amplitude geográfica do seu deslocamento.
O estudo também irá avaliar o impacto das atividades econômicas da região sobre a espécie, categorizada como vulnerável à extinção, em decorrência da perda e fragmentação de habitat, associadas principalmente à expansão agrícola, pecuária e mineração, implantação de hidrelétricas, ampliação da malha viária e a eliminação de indivíduos por caça ou retaliação por predação de animais domésticos.
A diminuição iminente dos remanescentes florestais e de outras áreas semiabertas, resultante das mudanças efetuadas na legislação ambiental brasileira, representa uma ameaça adicional. Neste contexto, o Projeto tem como um de seus objetivos gerar informação para apoiar planos de ação para a conservação das onças sob a ótica da Saúde Única. “Ao compartilhamos o mesmo planeta com outros animais, compartilhamos recursos, patógenos, problemas e suas soluções responsáveis,” observa o biólogo José Cordeiro, pesquisador da Fiocruz Ceará e PICTIS, especialista em Ecologia de Paisagem e One Health. Também participam da pesquisa, na percepção One Health, o tecnologista Giovanny Mazzarotto (Fiocruz Ceará) e Gabriella Matthias, estudante de biologia na UA (DBio-UA).
Saiba mais
A onça-pintada também conhecida pelo nome científico de Panthera onca é o maior felino das Américas e o terceiro maior do mundo, depois do tigre e o do leão. Sendo a potência de sua mordida considerada a maior dentre os felinos de todo o mundo. Ela ocupa o topo da cadeia alimentar e têm um papel fundamental no equilíbrio dos ecossistemas, pois atuam na regulação do tamanho populacional de outras espécies animais. Em função disso, de um modo geral, necessitam de áreas extensas e com hábitat de boa qualidade para sobreviver. Desta forma, sua ocorrência pode é um indicador de qualidade ambiental da região.
As onças-pintadas vivem geralmente em vários tipos de ambientes, desde florestas densas até ambientes mais abertos como o Pantanal e o Cerrado. Originalmente espalhadas desde o sudoeste dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Atualmente ela está extinta nos Estados Unidos, é rara no México, mas ainda pode ser encontrada na América Latina, incluindo o Brasil. O Pantanal brasileiro, maior planície continental inundável, é um dos principais refúgios da onça-pintada no planeta.
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