Estudo da Fiocruz Ceará investiga Sars-CoV-2 em animais silvestres

O projeto “Detecção de coronavírus em animais silvestres”, coordenado pelo pesquisador da Fiocruz Ceará José Luis Passos Cordeiro, em parceria com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Museu Nacional (UFRJ) e Museu de História Natural do Ceará (MHNC/UECE), iniciou o trabalho de campo para investigar a detecção do Sars-CoV-2, vírus causador da Covid-19, em animais silvestres (nesta etapa em morcegos).

A captura dos animais foi feita inicialmente no campus da Fiocruz Ceará, às margens da Lagoa da Precabura, e contou com a participação dos pesquisadores Giovanny Mazzarotto (Fiocruz CE), Marcione Oliveira (MN), Nádia Cavalcante (MHNC/UECE) e Beatriz Almeida (MHNC/UECE). O estudo terá continuidade em Pacoti, no Maciço de Baturité, município que abriga o Museu de História Natural do Ceará.

O estudo, que ampliará a coleta para pequenos mamíferos (roedores), foi um dos quatorze projetos aprovados, em dezembro de 2020, no Edital INOVA/Fiocruz Ceará/FUNCAP que destinou R$ 2 milhões para projetos de respostas rápidas para o combate da pandemia. A pesquisa faz parte de uma rede de colaboração para vigilância de coronavírus circulantes em animais silvestres e se integra a Rede Genômica da Fiocruz, no rastreio de variantes.

A captura dos animais é feita por meio de redes instaladas estrategicamente em regiões de alta circulação dos morcegos. Depois de identificar as espécies capturadas, os especialistas coletam as amostras com swab, para a identificação do Sars-CoV-2 e de outros tipos de vírus.

As amostras do material biológico coletado serão analisadas pelos Laboratórios de Virologia Comparada e Ambiental e de Vírus Respiratórios e Sarampo, ambos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), para observar se os morcegos são hospedeiros ou suscetíveis à infecção pelo Sars-CoV-2 ou a outro vírus da família coronavírus. Os resultados obtidos ajudarão a mapear e entender a circulação viral e a dinâmica da doença.

Após inúmeras teorias sobre a origem do coronavírus, cientistas identificaram que o vírus é originário de morcegos, assim como a maioria dos outros coronavírus e que houve um fenômeno chamado de “transbordamento zoonótico”, quando um patógeno que acomete animais sofre mutação e passa a infectar humanos. Um processo natural e não induzido pelo homem em laboratório, ao contrário do que acontece com os desastres ambientais provocados pela humanidade, e capazes de promover alterações no equilíbrio ambiental facilitando o surgimento acelerado de surtos e pandemias.

Historicamente discriminados, os morcegos têm importante papel no equilíbrio dos ecossistemas. Desde espécies que se alimentam de insetos e assim ajudam a controlar pragas e vetores de doenças, como as arboviroses, até aqueles morcegos comedores de frutas ou néctar que ajudam na dispersão de sementes e polinização de uma grande variedade de plantas de importância econômica (banana, manga, caju, goiaba, araça, Jatobá, pitáia, agave-azul – planta da tequila, entre outras). Por estas características morcegos são importantes também nos processos de regeneração da vegetação, disseminando grandes quantidades de sementes nesses ambientes.

Neste contexto, morcegos são importantes sentinelas tanto da circulação de patógenos, de importância médica, quanto da qualidade do ambiental que compartilhamos com a nossa vasta biodiversidade.

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