Aula sobre desafio das epidemias de arboviroses no país marca abertura do ano letivo da Fiocruz Ceará

A comunidade acadêmica para discutir as epidemias de arboviroses no Brasil.

A Fiocruz Ceará promoveu, na segunda-feira (22/04), sua Aula Inaugural 2024. O evento que marca o início do ano letivo da instituição reuniu a comunidade acadêmica para discutir as epidemias de arboviroses no Brasil, em especial de Dengue e Chikungunya, com altos índices de casos e mortes atualmente. O infectologista Rivaldo Venâncio da Cunha, pesquisador especialista em Saúde Pública da Fiocruz, apresentou um panorama das epidemias e discutiu os desafios para seu enfrentamento.

Carla Celedônio, coordenadora geral da Fiocruz Ceará, iniciou o encontro saudando estudantes, pesquisadores e pesquisadoras e desejou êxito na trajetória acadêmica deste ano. “Acolhemos cada pessoa e desejamos uma temporada proveitosa e promissora na instituição”.

O pesquisador Rivaldo Cunha apresentou um panorama das epidemias e discutiu os desafios para seu enfrentamento.

Rivaldo Cunha agradeceu o convite e destacou a contribuição que o Ceará tem dado para a Ciência, com pesquisas, estudos e publicações. Em sua intervenção, o pesquisador apresentou um histórico das arboviroses, ressaltando que o problema é antigo. Segundo ele, as primeiras notícias datam de 1872, que cita casos ainda de 1830, no Rio de Janeiro, de uma doença que ainda não tinha sua origem conhecida. “A primeira ocorrência laboratorialmente identificada no Brasil foi no verão entre os anos de 1981 e 1982, já a primeira epidemia é registrada entre 1985 e 1986, também na Baixada Fluminense. Desde então, praticamente todos os anos vivenciamos essa epidemia no Brasil, mudando apenas regiões e localidades, sendo mais ou menos intensas”, registra.

O infectologista alertou sobre o surgimento de outra doença, nova até então, que também preocupou o país e de grande incidência no Ceará em 1994: a Chikungunya, transmitida pelo mesmo vetor: o mosquito Aedes aegypti. Depois delas, teve ainda o surgimento, em meados de 2014, da Zika, com altos índices de mortes e ligação com casos de hidrocefalia em bebês.

Agora, Rivaldo destaca mais uma possível preocupação que deve acionar o alerta daqueles que trabalham com a saúde: a Oropouche, arbovirose que tem tirado o sono da população e de gestores da região amazônica e da Bahia. A doença apresenta elevação no número de casos e lembra a dengue, com febre e dores no corpo. “Já são mais de 200 casos laboratorialmente identificados na Bahia e a probabilidade de se espalhar no Brasil é muito grande por duas razoes principais: o vetor, conhecido por mosquito-pólvora ou maruim, existe no país inteiro, assim como a população suscetível. Gravemos este nome. Tomara que eu esteja errado”, pondera.

Segundo o infectologista, as epidemias de arboviroses urbanas vão continuar ocorrendo, independente da vontade dos gestores e das esferas de governo.

Segundo o infectologista, as epidemias de arboviroses urbanas vão continuar ocorrendo, independente da vontade dos gestores e das esferas de governo. “Enquanto uma nova tecnologia para controle dos vetores ou uma vacina específica não estiverem disponíveis em larga escala, como é a nossa situação no momento, continuaremos presenciando o aumento de casos e mortes de uma doença que já conhecemos e sabemos tratar”. Rivaldo considera que a situação preocupa e representa o agravamento de problemas de saúde pública cuja origem e solução definitiva estão para além do Sistema de Saúde e de sua governabilidade porque “não depende do SUS, dentre outras coisas, a coleta de lixo e nem o fornecimento de água para o consumo doméstico”.

O pesquisador considera que as epidemias poderiam ser previstas com razoável antecedência se os dados fossem adequadamente monitorados. “Deveremos fechar este ano com 5 milhões de casos notificados. Há quase 40 anos conhecemos a doença cujo tratamento é reidratação, consumo de água, solução relativamente simples. Na contramão dos dados, o que temos visto é o agravamento dos números, com mortes e isto é inaceitável”, reitera.

Rivaldo aponta fatores socioambientais determinantes que contribuem para a proliferação das epidemias de arboviroses no Brasil: elevados índices pluviométricos como consequência das mudanças climáticas (aquecimento global) e deficiência na distribuição de água e da coleta do lixo urbano.  

O infectologista considera que as epidemias poderiam ser previstas com razoável antecedência.

O pesquisador também aponta erros relacionados ao aumento de óbitos: subestimar a doença, com a não procura de atendimento; falta de acesso à rede de atenção, quando o paciente desiste e vai embora ou ainda quando a gravidade da doença não foi percebida pela equipe assistente. “Muitas mortes poderiam ter sido evitadas com decisões executáveis”.

Após a intervenção do Dr. Rivaldo, foi facultada a participação do público para interação, com perguntas tanto de estudantes e pesquisadores, com troca de experiências e comentários sobre a aula.

Íntegra da Aula Inaugural 2024 – Rivaldo Cunha

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