Fiocruz Ceará e movimento social discutem riscos à saúde relacionados ao avanço da mineração no Ceará
A Fiocruz Ceará, por meio da Coordenação de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (CAAPS) e da área de Saúde e Ambiente, recebeu, na última quarta-feira (20/9), representantes do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM). Com 10 anos de atuação, o movimento nacional surgiu no Pará em luta contra a Vale e hoje atua em 14 estados brasileiros, incluindo o Ceará. O grupo não se coloca contrário à mineração, mas busca que a prática esteja a serviço da população, com respeito ao meio ambiente.
Na reunião, foram apresentadas duas grandes demandas para a Fiocruz: a preocupação com a água e com a saúde. “Para ter uma ideia, segundo os dados apresentados pelo grupo, um terço do território do estado do Ceará está envolvido em processos minerários e isso representa uma extensão muito considerável de terras para a exploração, por exemplo, do cobre”, avalia Fernando Carneiro, pesquisador da Fiocruz Ceará.
Um tema importante discutido durante a reunião é a preocupação com a mina de urânio, localizada em Santa Quitéria, com área de influência direta em Itatira, Catunda e Boa Viagem, municípios localizados no Sertão Central cearense. Considerada a quarta maior mina de urânio do mundo, ela está embargada pelo Ibama por comprometer questões como a saúde e a água. “Para sua atividade, a usina utiliza milhões de litros de água para beneficiar o urânio, que está associado ao fosfato, material radioativo com alto risco de gerar problemas de saúde, inclusive o câncer”, pondera Carneiro, que relembra o histórico caso de mau manejo de produtos radioativos, como o Césio 137. O caso aconteceu em 1987, em Goiânia, e é considerado o maior acidente radioativo do Brasil e o maior do mundo ocorrido fora das usinas nucleares. “Por isso há muita preocupação e medo nos territórios”.
Outra preocupação da comunidade relatada pelos representantes do MAM é a percepção no aumento significativo de diversos tipos de cânceres na região, principalmente no raio próximo à mina, maior que em outras regiões do Ceará. “Já há uma preocupação se, nas condições ambientais atuais, com a radiação natural, se já há efeitos na saúde, além do temor com que a possível exploração da mina viria a prejudicar mais ainda essa população”, informa Vanira Pessoa, coordenadora da CAAPS. “Além do câncer, eles falaram muito do medo das malformações fetais e da incidência de casos de abortos espontâneos e partos prematuros que também percebem na população local”, acrescenta.
Dentre as solicitações para parceria entre a Fiocruz Ceará e o MAM, o desenvolvimento de um estudo epidemiológico de base na população de área de influência da mina para avaliar impactos futuros na saúde, em caso de reativação. Além deste estudo, também sugeriu a formação para o SUS no território, tanto para agentes comunitários e populares quanto para profissionais da Estratégia Saúde da Família, buscando identificar esses impactos na saúde com o avanço da mineração. “Eles têm muita necessidade de ter uma clareza do perfil dos processos de adoecimento que há em curso, como formar os trabalhadores do SUS que atuam nesses territórios para realizações de prevenção, de promoção da saúde, de diagnóstico precoce, de possíveis efeitos na saúde relacionados à exposição ao urânio”, avalia Vanira. Fernando Carneiro também reforça a importância das ações na região. “A Fiocruz já tem um projeto nacional voltado para o tema, então a Fiocruz Ceará iria se somar a essa iniciativa nacional, que envolve mais de 100 pesquisadores, de Norte a Sul do país”, acrescenta.
Participaram da reunião representando a Fiocruz Ceará Vanira Pessoa, Fernando Carneiro e a pesquisadora Ana Claudia Teixeira. Erivan Silva, João Victor, Antônia Patrícia e Pedro D’Andreia pelo MAM.
Tags: Fiocruz Ceará, Mineração, Saúde e Ambiente.