Evento em Fortaleza reforça a cooperação científica em saúde entre Brasil e França

Projeto financiado pelo governo francês destina R$ 3,5 milhões à criação de rede de pesquisa e biobanco em doenças infecciosas, em cooperação entre o Institut Pasteur, a Fiocruz e instituições cearenses
Entre os dias 1º e 3 de outubro de 2025, aconteceu um dos mais relevantes encontros bilaterais sobre pesquisa em doenças infecciosas, o 31º Seminário de Cooperação Científica e Técnica França-Brasil e a 9ª Jornada Científica da Agência Nacional Francesa de Pesquisa em Doenças Infecciosas Emergentes (ANRS MIE). O evento reuniu, em Fortaleza, pesquisadores, profissionais de saúde, gestores públicos e representantes de instituições científicas dos dois países para fortalecer ações conjuntas de vigilância, prevenção e inovação em saúde.
Entre os destaques da programação, esteve a participação da cocoordenadora do Centro Pasteur-Fiocruz de Imunologia e Imunoterapia, Caroline Passaes, que apresentou o lançamento do projeto Cooperação em Saúde para Doenças Infeciosas, uma iniciativa científica financiada pelo governo francês, através do Ministère de l’Europe et des Affaires étrangères. O investimento amplia o intercâmbio entre centros de pesquisa brasileiros e franceses, com foco em doenças infecciosas e emergentes que exigem respostas conjuntas e integradas.
A mesa de apresentação do Projeto contou com a participação de Sophie Jacquel, conselheira para Ciência e Tecnologia da Embaixada da França no Brasil; do infectologista Érico Arruda, do Hospital São José de Doenças Infecciosas; de Luciano Pamplona, superintendente da Escola de Saúde Pública do Ceará, representando a Secretaria da Saúde do Estado; e de Sandra Monteiro, secretária da Ciência e Tecnologia e Educação Superior do Ceará (Secitece), que destacou a importância da integração entre ciência e políticas públicas para o fortalecimento da pesquisa no Ceará.

Ressaltando que o projeto é resultado de mais de um ano de trabalho conjunto entre o Institut Pasteur, a Fiocruz e instituições parceiras locais, como o Hospital São José e a Secretaria da Saúde do Estado, Caroline Passaes apresentou os objetivos principais do projeto, que busca ampliar as ações de cooperação entre Brasil e França no enfrentamento das doenças infecciosas emergentes.
Ela detalhou que o financiamento, da ordem de cerca de 3,5 milhões de reais, será fundamental para a criação de uma rede colaborativa de pesquisa no campo das doenças infecciosas tropicais e emergentes, com foco no enfrentamento dos grandes desafios de saúde pública na região. “Nosso objetivo é estruturar um biorepositório que evolua para um biobanco de excelência nas dependências do Centro Pasteur-Fiocruz, além de conduzir estudos piloto e promover mobilidade e capacitação de profissionais. Queremos unir expertises e criar as bases para novos projetos científicos, ampliando o impacto dessas pesquisas de forma regional, nacional e internacional”, explicou Caroline.
A pesquisadora também destacou a importância da cooperação bilateral. “A saúde é um bem comum global. Os desafios são imensos, mas as soluções existem e exigem solidariedade, inovação e engajamento coletivo. Trabalhar em cooperação é a forma mais concreta de transformar esse compromisso em resultados para a sociedade”, afirmou.
A conselheira Sophie Jacquel detalhou sobre o financiamento concedido pelo Fundo Equipe França (FEF) e o simbolismo da conquista para a consolidação da parceria científica entre Brasil e França. “Foi um projeto conjunto, resultado do trabalho coletivo de múltiplos atores: do Pasteur, da Fiocruz e de todos nós da Embaixada. Foi uma vitória, porque foi difícil, então parabéns a todos”, O FEF é o Fundo Equipe França, criado para apoiar iniciativas francesas com países parceiros e, neste caso, com o Brasil. Normalmente, ele não financia pesquisas diretamente, mas busca criar uma dinâmica, construir redes de atores e estruturar uma cooperação. É exatamente isso que conseguimos aqui, graças à força e à confiança dessa parceria.”
Sophie ressaltou ainda que o financiamento reflete a confiança do governo francês na capacidade de inovação científica cearense e no papel estratégico da Fiocruz no fortalecimento das relações bilaterais. “A cooperação entre o Pasteur e a Fiocruz no Brasil é forte e dinâmica, com várias colaborações que agora ganham nova estrutura e reconhecimento. Este projeto é um sinal claro da vontade da França de desenvolver a cooperação em saúde no Ceará e no Brasil”, concluiu.
Durante as apresentações, o Dr. Érico Arruda apresentou o perfil epidemiológico de doenças infecciosas no estado do Ceará e destacou o perfil de atendimento no hospital São José, referência no estado para essas doenças. Já a secretária Sandra Monteiro falou sobre a importância da articulação Brasil-França no contexto do fortalecimento da Ciência e Tecnologia no estado. Luciano Pamplona destacou a relevância da parceria internacional e o orgulho das instituições locais pela cooperação, reforçando que a Secretaria apoia esse trabalho conjunto que amplia horizontes e reforça o papel do Ceará como referência em saúde pública.
Ao longo dos três dias, a programação promoveu uma ampla troca de experiências entre pesquisadores e gestores brasileiros e franceses. As discussões contemplaram inovações tecnológicas aplicadas ao diagnóstico e tratamento do HIV, tuberculose, hepatites virais e outras infecções sexualmente transmissíveis, além de novas estratégias de cuidado voltadas às populações migrantes.
Também foram debatidas políticas públicas voltadas à eliminação dessas doenças, o papel da sociedade civil na resposta aos agravos e mecanismos de cooperação técnica entre instituições dos dois países. O seminário ainda abriu espaço para debates sobre financiamento da pesquisa, estímulo a jovens cientistas e análise dos desafios impostos pelas doenças emergentes na Amazônia e na região de fronteira com a Guiana Francesa, reforçando a importância de uma ciência colaborativa e global.
O evento é organizado anualmente pelo Ministério da Saúde, pela Embaixada da França no Brasil e pela ANRS MIE, esses eventos científicos representam uma oportunidade de intercâmbio entre as equipes de pesquisa brasileiras e francesas engajadas na investigação sobre doenças infecciosas.
Lançamento da Plataforma Internacional de Pesquisa em Saúde Global (Prisme França-Brasil)
Na oportunidade também foi lançada a Plataforma Internacional de Pesquisa em Saúde Global (Prisme França-Brasil), um consórcio voltado à promoção da cooperação científica entre instituições brasileiras e francesas. A iniciativa reúne o Ministério da Saúde (MS), a Fiocruz, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com o propósito de fortalecer a liderança científica compartilhada e estimular projetos colaborativos direcionados aos grandes desafios da saúde global.
Do lado francês, participam o Instituto Nacional da Saúde e de Pesquisa Médica (Inserm), a Agência Nacional Francesa de Pesquisa em Doenças Infecciosas Emergentes (ANRS MIE), o Institut Pasteur, o Institut Pasteur da Guiana, o Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD) e a Embaixada da França no Brasil, consolidando uma ampla rede internacional de pesquisa e inovação em saúde.