Pesquisadores da Fiocruz Ceará lançam Atlas sobre violência na perspectiva dos ACS durante Bienal do Livro

Como resultado de mais uma ação liderada por pesquisadores da Fiocruz Ceará, em parceria com representantes de outras instituições partícipes do grupo de pesquisa NósAPSBrasil, foi publicado o Atlas da Violência na Perspectiva dos Agentes Comunitários de Saúde. O lançamento da publicação aconteceu no dia 12 de abril de 2025, durante da XV Bienal Internacional do Livro do Ceará, realizada de 4 a 13 de abril de 2025, no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza.
O Atlas da Violência na perspectiva dos agentes comunitários de saúde (ACS) lança luz sobre os desafios enfrentados por ACS em oito municípios do Nordeste brasileiro, incluindo as capitais Fortaleza (CE), João Pessoa (PB), Teresina (PI) e Recife (PE), além das cidades cearenses de Sobral, Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha. A pesquisa destaca como situações estressoras, dentre elas a violência urbana e a pandemia de COVID-19, afetam diretamente o cotidiano desses profissionais, comprometendo sua saúde mental, qualidade de vida e processos de trabalho.
A escolha metodológica de escutar os ACS não foi por acaso. Por viverem e trabalharem nas mesmas comunidades onde atuam, esses profissionais têm um conhecimento profundo do território e oferecem uma visão estratégica sobre os desafios da atenção primária em contextos de vulnerabilidade. “Eles trazem informações valiosas para o desenvolvimento de políticas públicas que fortalecem sua atuação e o cuidado à população”, destaca a pesquisa.


O estudo foi motivado pelo preocupante aumento da violência no Brasil, com destaque para o Nordeste. Em 2024, segundo o ranking Most Violent Cities in the World, 17 das 50 cidades mais violentas do mundo estavam no país — 10 delas na região Nordeste, incluindo 8 capitais. A violência, além de alarmante, tem um impacto desigual: atinge com mais força as populações mais vulneráveis.


Mas a violência urbana não é o único desafio. A atenção primária também tem enfrentado pressões sazonais, como surtos de dengue, Zika e, mais recentemente, os efeitos da pandemia de COVID-19. “O Atlas mostra, sob a perspectiva dos ACS, como a pandemia impactou suas rotinas de trabalho e ampliou ainda mais os efeitos da violência nos territórios. Os dados indicam que o trabalho desses profissionais é justamente mais limitado nos locais onde é mais necessário — nas áreas mais vulneráveis, com piores indicadores sociais e de saúde”, explica Anya Vieira-Meyer, pesquisadora da Fiocruz Ceará e coordenadora do estudo financiado pela Funcap, PMA-Fiocruz e Harvard/Fundação Lemann.


Segundo ela, os resultados são preocupantes e revelam o quanto a violência interfere na capacidade do sistema de saúde de cuidar da população: “Estamos falando de comunidades em que a presença do ACS é fundamental — e é justamente onde a violência mais impede que esse cuidado aconteça.”
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