Centro Pasteur Fiocruz de Imunologia e Imunoterapia é inaugurado no Ceará
Inaugurado nesta sexta-feira (17/5), o Centro Pasteur Fiocruz de Imunologia e Imunoterapia, no Ceará, reúne cientistas do Instituto Pasteur e da Fiocruz – dois membros da Rede Pasteur – com o objetivo de acelerar a pesquisa em imunologia e imunoterapia em nível regional, nacional e internacional, com foco tanto em doenças infecciosas quanto não transmissíveis, como câncer, doenças autoimunes, degenerativas e negligenciadas. A iniciativa conta com o apoio do Governo do Ceará e do Ministério para a Europa e Relações Exteriores da França, por meio da embaixada em Brasília. Veja como foi a cerimônia de inauguração.
Participaram da cerimônia de inauguração o governador do Ceará, Elmano de Freitas, o presidente da Fiocruz, Mario Moreira, o vice-presidente executivo sênior de Assuntos Científicos do Instituto Pasteur, Christophe d’Enfert, a vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado, o coordenador da Estratégia Agenda 2030 Fiocruz (EFA 2030/ Fiocruz), Paulo Gadelha, e o embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain. O secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha, representou a ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima. A cerimônia contou ainda com a coordenadora da Fiocruz Ceará, Carla Celedônio, do cônsul-geral da França, Serge Gas, e do prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves Pinto Filho, além de membros da Rede Pasteur nas Américas, como os do Instituto Armand Frappier, Instituto Pasteur de Guadeloupe, Instituto Pasteur de Guyanne, Instituto Pasteur de São Paulo e Instituto Pasteur de Montevidéu.
O novo Centro está localizado no campus da Fiocruz Ceará, em Eusébio, a 30 minutos de Fortaleza, em um prédio com 2.350 m². O Centro também se beneficiará da estrutura da unidade regional da Fiocruz, criada em 2008 e que hoje é a âncora tecnológica do Polo Industrial e Tecnológico de Saúde do Ceará (PITS).
“A inauguração do Centro de Imunologia e Imunoterapia na Fiocruz Ceará introduz um novo modelo de colaboração na centenária parceria entre a Fiocruz e o Instituto Pasteur”, explica o presidente da Fiocruz, Mario Moreira. “Este Centro, com foco em inovação, nos permitirá acelerar a pesquisa translacional em imunologia e imunoterapia, com impacto direto e positivo no nosso SUS, ao ampliar o acesso a tratamentos avançados para a população brasileira. Sem dúvida, as pesquisas desenvolvidas resultarão em soluções para doenças que afetam não só o nosso país, mas os nossos vizinhos da América Latina e do Sul Global, que também poderão se beneficiar. Essa parceria, portanto, reforça o compromisso da Fiocruz e do Instituto Pasteur de, a partir de uma ciência de excelência, promover a saúde e o bem-estar das pessoas”, enfatiza.
O desenvolvimento de novas imunoterapias é uma importante estratégia de saúde pública. Este tipo de tratamento baseia-se na modulação do sistema imunológico e pode atingir diretamente um agente infeccioso, células e tecidos danificados ou regular o microambiente imunológico promovendo uma resposta imune adequada para combater uma determinada doença. Revolucionou o tratamento do câncer nos últimos anos, mas não se restringe à área oncológica. Na verdade, a sua utilização no tratamento de outras doenças não transmissíveis e doenças infecciosas tem aumentado rapidamente.
O Centro tem três áreas científicas prioritárias: câncer; doenças infecciosas e negligenciadas; e doenças autoimunes, neurodegenerativas e inflamatórias. Entre os projetos patrocinados pelo Centro estão o desenvolvimento de inibidores para tratamento de doenças neurodegenerativas; o desenvolvimento de conjugados anticorpo-fármacos; o desenvolvimento de fragmentos de nanocorpos/anticorpos para doenças tropicais negligenciadas; células CAR-T; e imunoterapias para melhorar as funções das células T para combater doenças infecciosas.
“A Fiocruz e o Instituto Pasteur têm sido parceiros históricos sólidos, ligados desde a sua concepção. A criação do Centro Pasteur Fiocruz de Imunologia e Imunoterapia é mais um passo ambicioso e estratégico para a nossa parceria, bem como para as relações franco-brasileiras. Por meio deste centro bilateral, ambas as instituições contribuirão para acelerar o desenvolvimento de abordagens disruptivas em imunoterapia, reunindo a sua experiência inimitável no reforço da pesquisa fundamental e aplicada para a descoberta e produção das imunoterapias do amanhã.
O Brasil e a França têm territórios vastos e diversificados, suas populações são frequentemente afetadas por doenças infecciosas e tropicais negligenciadas causadas por vírus, bactérias, parasitas e picadas de cobras. As doenças transmitidas por mosquitos, como a dengue, a chikungunya, a febre amarela, a malária e o zika, são endémicas em algumas regiões de ambos os países. Além disso, ambos os países enfrentam um aumento nas doenças não transmissíveis. Este cenário sinaliza uma demanda crescente por terapêuticas inovadoras.
Tratamentos para o SUS
O primeiro acordo-quadro bilateral prevendo a criação do Centro foi definido em 2015 e renovado em 2021. No ano seguinte, foi decidido que a Fiocruz Ceará receberia um pesquisador do Instituto Pasteur para contribuir nos esforços de pesquisa integrada. A escolhida foi a imunologista brasileira Caroline Pereira Bittencourt Passaes, que tem mestrado e doutorado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e trabalha há 11 anos no Instituto Pasteur. Caroline é coautora do estudo referente ao terceiro caso de cura da Aids.
“As atividades do Centro abrangem projetos de pesquisa fundamental e translacional, para desenvolvimento de novas imunoterapias”, explica Caroline. “Esse modelo de cooperação entre o Pasteur e a Fiocruz promove o desenvolvimento de projetos inovadores de forma conjunta, utilizando todos os recursos disponíveis, não só no Centro de Imunologia e Imunoterapia, mas também nos institutos parceiros. A promoção da mobilidade de pesquisadores e estudantes e a capacitação de recursos humanos é um aspecto fundamental desta parceria”.
Ao lado de João Hermínio Martins da Silva, ex-coordenador de pesquisa da Fiocruz Ceará, Caroline é uma das coordenadoras do Centro Pasteur Fiocruz de Imunologia e Imunoterapia. Apesar do aprimoramento na capacidade global de desenvolver e fabricar imunoterapêuticos, somente um número limitado de pacientes pode beneficiar-se do acesso universal a estas terapias para tratar as suas doenças devido ao custo elevado. “A contribuição do Centro certamente será importante para o SUS”, afirma o pesquisador João Hermínio, especialista em modelagem molecular de biofármacos.
“Na vanguarda da pesquisa em saúde, estamos explorando novas fronteiras na imunoterapia. Ao direcionar o sistema imunológico para combater doenças como o câncer, potencialmente tornamos os tratamentos mais toleráveis. As abordagens propostas no Centro visam tornar as imunoterapias mais acessíveis, reduzindo custos para o SUS e tornando-as disponíveis para mais pessoas”, afirma João Hermínio. “A parceria entre a Fiocruz e o Pasteur consolida uma troca de conhecimento vital. Juntos, podemos acelerar descobertas, aprimorar protocolos e expandir o acesso a tratamentos eficazes, beneficiando a saúde pública local e global”.
O Centro Pasteur Fiocruz de Imunologia e Imunoterapia está diretamente ligado à Diretoria-Geral do Instituto Pasteur e à Presidência da Fiocruz. Conta com uma Comissão Coordenadora e um Conselho Consultivo Científico (SAB). A Comissão de Coordenação é formada por três representantes do Pasteur, três da Fiocruz, um da Embaixada da França no Brasil e um do Governo do Ceará. O SAB é composto por seis membros, especialistas independentes que desenvolvem suas atividades científicas na Europa e na América do Sul, indicados conjuntamente pelo Pasteur e pela Fiocruz.
O funcionamento começou antes mesmo de sua inauguração. Na véspera (16/5) foi organizado o Simpósio Pasteur Fiocruz em Imunologia e Imunoterapia, que reuniu pesquisadores de diferentes partes do mundo e abordou temas sobre imunologia básica e translacional, imunoterapias e aplicações inovadoras na área.
O Centro Pasteur Fiocruz de Imunologia e Imunoterapia colaborará estreitamente com o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), por meio de um laboratório de pesquisa e desenvolvimento que está em estruturação. O Centro também vai trabalhar em parceria com universidades, institutos de pesquisa e empresas públicas ou privadas. Adota um modelo de funcionamento multiusuário, o que significa que a utilização dos equipamentos está aberta a qualquer colaborador que a solicite. Além das contribuições da Fiocruz e do Pasteur, o Centro conta ainda com o apoio financeiro do Ministério para a Europa e as Relações Exteriores da França (por meio de sua embaixada em Brasília), do Governo do Ceará e da agência estadual para o desenvolvimento da Ciência (Funcap).
Uma longa parceria
Os laços que ligam o Instituto Pasteur ao Brasil remontam ao final do século XIX, quando o imperador Pedro II, um forte defensor da pesquisa científica, desenvolveu um grande interesse pelo trabalho de Louis Pasteur. Em 1879, Dom Pedro II convidou Louis Pasteur ao Brasil para estudar e combater a epidemia de febre amarela. Embora Pasteur não pudesse viajar ao Brasil, uma colaboração bem-sucedida resultou num significativo apoio financeiro do imperador, o que contribuiu para a criação do Instituto Pasteur em Paris, em 1887. Mais tarde, o cientista brasileiro Oswaldo Cruz viajou para Paris em 1897 e trabalhou com a primeira geração de pasteurianos, incluindo Émile Roux. Em meados de 1899, com os estudos concluídos, Oswaldo Cruz retornou ao Brasil e fundou, em 25 de maio de 1900, o Instituto Soroterápico Federal, que deu origem à Fundação Oswaldo Cruz. A inauguração do Centro Pasteur Fiocruz de Imunologia e Imunoterapia representa um capítulo novo nesta história.
O Instituto Pasteur e a Fiocruz são membros da Rede Pasteur, uma aliança de mais de 30 institutos que desempenha um papel crucial na abordagem dos desafios globais de saúde através da ciência, inovação e saúde pública. A sua força reside na diversidade e no extenso alcance geográfico, abrangendo 25 países em cinco continentes, promovendo uma comunidade dinâmica de conhecimento e experiência. A Rede Pasteur é reconhecida como uma organização não estatal da OMS, e seus membros estão frequentemente integrados aos ministérios da Saúde locais. A Rede Pasteur sustenta uma infraestrutura global que abrange mais de 50 laboratórios de referência nacionais e regionais, que inclui vários laboratórios de nível 3 de biossegurança e 17 centros colaboradores da OMS.
O trabalho da Rede Pasteur é orientado por quatro pilares estratégicos: preparação para epidemias, inteligência, com foco em doenças sensíveis ao clima; pesquisa, desenvolvimento e inovação; comunidades de conhecimento; e boa governança e equidade.
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