Saúde brasileira e angolana são temas de seminário realizado na Fiocruz Ceará
A Fiocruz Ceará, por meio da Coordenação de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (CAAPS), realizou nesta terça-feira (19/9), o seminário “Contextos da saúde brasileira e angolana: experiências, conquistas e desafios para o ambiente, atenção primária à saúde e promoção da saúde”. A conexão Ceará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Luanda aconteceu de forma híbrida e discutiu, a partir de experiências nacionais e internacionais na atenção primária à saúde (APS), possibilidades de avançar numa atuação interinstitucional na perspectiva da cooperação Sul-Sul para fortalecer o direito à saúde, tendo como base as questões ambientais e a promoção da saúde.
Vanira Pessoa, coordenadora da CAAPS, destacou a iniciativa como sendo o marco inicial das atividades da coordenação recém-criada na Fiocruz Ceará, que buscará fortalecer a atenção primária não só no Brasil, mas com articulações com os demais povos e comunidades.
Hermano Castro, vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz (VPAAPS) iniciou o encontro destacando o novo momento do Brasil, numa perspectiva de reconstrução em vários sentidos, dentre eles na saúde. “A Fiocruz sempre teve este viés e participação direta nestas ações. Através da VPAAPS, reafirmamos nosso compromisso com os territórios, com as comunidades vulnerabilizadas e a identificação com os povos originários. São inúmeros os desafios comuns aos dois países, mas temos avançado neste processo de encontros e conquistas. Iniciativas como esta ajudam-nos a construir e reconstruir nossas parcerias e reforçam a nossa intenção de fortalecer esta relação bilateral”, ratifica.
O médico sanitarista Carlile Lavor, responsável pela estruturação do Programa Agentes de Saúde no Ceará e em Luanda, participou do encontro. Segundo ele, a língua portuguesa foi uma ferramenta importante nos processos, pois facilitou o entendimento e o diálogo. Em sua intervenção, o assessor da Fiocruz Ceará apresentou documentos, fotos e memórias de suas visitas ao país africano, onde atuou na articulação, implantação de formação de profissionais agentes comunitários com a esposa, a assistente social Miria Lavor (in memorian). Carlile abordou temas relevantes, com dados, sobre a relação entre aleitamento materno e a redução da mortalidade infantil, a participação dos agentes de saúde para o êxito da vacinação contra o sarampo e ainda o impacto da alfabetização das mães para a saúde da criança. “A relação entre o Brasil e a África ultrapassa a questão de saúde, podendo contribuir, inclusive, para a paz no mundo”, exemplifica.
A professora doutora do Departamento de Medicina Social da UFRGS, Camila Giugliani, também contou sua trajetória, a partir de contatos envolvendo o Rio Grande do Sul, o Ceará e Angola. Também através de fotos, destacou as muitas contradições e potenciais dos dois países. A médica de família e comunidade conheceu o país africano por meio de uma missão médica, em 2005, quando esteve em Huambo a primeira vez através da organização francesa “Médicos do Mundo”. “Era no pós-guerra. O país estava destruído, sem infraestrutura básica, em situação era de muita carência e alta mortalidade infantil”. Em 2007, retornou ao Brasil, época de forte expansão da atenção primária, do Programa de Saúde da Família. “Eu sentia que era preciso potencializar essa experiência e fazer com que nossos irmãos também tivessem acesso a isso”. No doutorado, Camila conheceu o médico Carlile Lavor e ambos voltaram a Angola para atuar na formação e apoio de implantação dos agentes comunitários. Camila compartilhou ideias de retomar os projetos nas frentes de apoio às políticas públicas de saúde e na formação de um grupo de pesquisa com rede colaborativa de ensino e de educação permanente, por meio de parcerias com outras instituições, “respeitando os processos com seu contexto e sua política”.
João Baptista Humbwavali, diretor do Instituto de Ciências de Saúde da Universidade Agostinho Neto (Luanda/Angola), apresentou as características do país no cenário da saúde, destacando ser ex-colônia portuguesa, ter vivenciado aproximadamente 40 anos em guerra vitimando mais de um milhão de pessoas. Com população de mais de 32 milhões de habitantes, o professor doutor do Departamento de Ciências de Enfermagem explicou como se deu a evolução do Sistema Nacional de Saúde de Angola. “Não podemos falar em atenção primária sem nos referirmos ao Brasil, ao Ceará e ao Dr. Carlile e a Dra. Miria, responsáveis pela consolidação dos agentes comunitários de saúde”, reconhece. João Baptista destaca os desafios para a continuidade dos projetos em Angola, mas também espera que com o novo governo brasileiro muitas portas e iniciativas favoráveis se reabram. “Nossa expectativa é a criação de convênios, intercâmbio entre os países, memorandos de entendimento e projetos conjuntos. Penso que podemos, a partir deste encontro, sistematizar e priorizar o que e como fazer para não perdermos este cordão umbilical que nos une”, defende.
Vanira agradeceu a participação de todos destacando a luta, a resistência e a resiliência do povo africano, historicamente injustiçado. “Estamos felizes com este encontro e comprometidos com esta luta. A criação da CAAPS na Fiocruz Ceará surge com este objetivo: conectar, compartilhar e atuar de forma integrada, ajudando a reescrever a história. Este seminário nasce com questões afetivas, com o compromisso de estar a serviço das pessoas e de reconhecer nossos limites, mas ainda seguir caminhando. Sabemos que podemos contribuir e somos uma amostra de pessoas que sonharam e fizeram a diferença, com anseios e dores comuns, mas com muita esperança”, ratifica.
Após a intervenção dos convidados, ficou facultada a palavra aos participantes, que puderam tirar dúvidas e conversar sobre os dois países. Ficou como encaminhamento do encontro a elaboração de um relatório-síntese da atividade, a criação de um grupo de trabalho envolvendo a Fiocruz, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Ciências de Saúde da Universidade Agostinho Neto e a Universidade Federal do Ceará para aprofundar as discussões iniciadas no seminário, buscando uma colaboração mútua envolvendo as diversas instituições. “Deveremos realizar reuniões menores para sistematizar as ideias e manter as conversas institucionais. Queremos nos fortalecer e nosso diálogo não se encerra hoje, pois vamos continuar pensando em novas iniciativas e eixos de fortalecimento”, afirma Vanira.
Veja AQUI a íntegra do seminário
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