O Jardim Medicinal da Estratégia Saúde da Família Baixio das Palmeiras

O Jardim Medicinal: ancestralidade e saber popular na autonomia do cuidado no território é a experiência que a equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF) do Sistema Único de Saúde (SUS) do Baixio das Palmeiras, no Crato, cadastrou para participar da pesquisa-ação SERPOVOS.

A equipe de Saúde da Família em parceria com o curso de Agronomia da Universidade Federal do Cariri (UFCA), através de um projeto de extensão, implantou em 2018 uma farmácia viva na Unidade Básica de Saúde Maria Tavares de Oliveira, na comunidade Baixio das Palmeiras. Os problemas por trás da idealização do Jardim Medicinal foram a constatação da automedicação e do uso indiscriminado de medicamentos sintéticos entre os moradores do território, e o baixo estoque de medicamentos na unidade básica de saúde.

Atentos a realidade do território, os profissionais da equipe também observaram que a comunidade do Baixio estava perdendo seus conhecimentos ancestrais sobre o uso de plantas para fins medicinais. Vale ressaltar que na região há uma imensa diversidade de fauna e flora pela proximidade com a Floresta Nacional do Araripe. A experiência foi, então, articulada para ampliar as ações de promoção da saúde, conciliar o conhecimento científico com o popular, e fortalecer esses saberes esquecidos ou mesmo desacreditados.

Em 2019, o projeto de extensão da UFCA foi renovado, e a experiência do Jardim Medicinal pôde ser expandida para a Unidade Básica de Saúde Raimunda Bezerra Teles, no Sítio Romualdo, comunidade que também está na área de abrangência da ESF Baixio das Palmeiras. A equipe atua em cinco territórios (Baixio dos Oitis, Baixio do Muquém, Chapada do Muquém, Sítio Romualdo e Baixio das Palmeiras) através de três Unidades Básicas de Saúde.

Jardim Medicinal (Foto: Acervo SERPOVOS)

A implementação do jardim e o desenvolvimento da experiência também contou com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que promoveu ações educativas e formativas para o uso adequado das plantas medicinais; com a Secretaria de Agricultura do Crato, que doou materiais para a confecção dos canteiros e de jardinagem; com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA), que doou as plantas medicinais; e com os profissionais residentes do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva da Universidade Regional do Cariri (URCA), que ajudaram a criar os projetos “Sala de Espera Educativa” e “Cantinho do Chá”.

O Jardim Medicinal possibilitou maior interação entre a comunidade e a equipe de saúde, e contribuiu para o uso racional tanto dos medicamentos, como das plantas medicinais e fitoterápicas. Importante contar que a experiência teve boa adesão, e que a população participante vive em condições de vulnerabilidade socioeconômica (dificuldade de acesso à água, habitação em moradias precárias e ausência de saneamento básico), e muitos apresentam doenças como hipertensão, diabetes e dislipidemia.

Atualmente, apenas o Jardim Medicinal da UBS do Sítio Romualdo está ativo. Ele conta com um número expressivo de espécies vegetais, dentre hortaliças, frutíferas e plantas ornamentais.  

Pesquisa-ação no território da ESF Baixio dos Palmeiras 

O primeiro passo da pesquisa-ação é quando um grupo decide fazer o cadastro da sua experiência em saúde no portal do SERPOVOS. A equipe de pesquisa faz uma seleção e vai à campo para visitar e realizar de forma participativa um diagnóstico e um plano de ação de fortalecimento da experiência. A equipe de Saúde da Família do Baixio compartilhou com o SERPOVOS as primeiras informações para a etapa de diagnóstico no final de 2021. Após a análise, a experiência foi selecionada pelo grupo de pesquisadoras e pesquisadores, que fizeram uma visita e realizaram uma oficina territorial com foco nas inovações nas práticas de cuidado em saúde produzidas nos territórios da Atenção Primária à Saúde (APS).  

As atividades de pesquisa de campo tiverem início no dia 1º de abril, quando foi feito um momento coletivo de apresentação dos participantes e do SERPOVOS, a pactuação da programação e da metodologia da oficina territorial, a entrega de materiais para a oficina, a explicação dos aspectos éticos em pesquisa, a assinatura de termo de consentimento livre e o preenchimento da ficha de caracterização dos participantes. Neste dia também tivemos a oportunidade de visitar a Casa de Quitéria, espaço de cultura, memória e resistência que fica na comunidade Baixio das Palmeiras.

No dia 05 de abril, fomos até a Unidade Básica de Saúde Raimunda Bezerra Teles para conhecer o Jardim Medicinal, onde fomos recebidos com chá. Após a visita, nos reunimos na igreja da comunidade Sítio Romualdo para realizar a oficina territorial. Fomos acolhidos com um farto café da manhã e uma apresentação cultural realizada por mulheres agricultoras, as Coqueiras dos Baixios. 

A atividade teve três momentos metodológicos. O primeiro foi a produção individual de uma carta para contar as percepções, ideias e pontos de vista sobre o que é uma equipe de Saúde da Família inovadora. O segundo momento foi a reflexão individual e em grupo em quatro estações sobre inovações em Saúde da Família na Atenção Primária à Saúde, a partir do roteiro a seguir: 

1ª estação – quais as características e o que seria uma experiência significativa de cuidado em saúde? 

2ª estação – de que forma essa experiência contribuiu para o fortalecimento e colaboração interprofissional dessa equipe de Saúde da Família? 

3ª estação – quais ações e estratégias realizadas pela equipe para solucionar/amenizar as necessidades sociais de saúde das famílias e pessoas da sua área de atuação? 

e 4ª estação – de que forma ocorre o diálogo intercultural entre os profissionais e trabalhadores da saúde e usuários?  

Após a sistematização em painéis, cada pequeno grupo transformou as reflexões escritas em arte visual.   

Por fim, tivemos uma roda de conversa em torno de problematizações finais, que trataram sobre como as instituições de ensino e pesquisa podem contribuir para que essas experiências sejam implementadas em outros territórios; e como envolver os entes federados na replicação/socialização de experiências significativas para inovar os cuidados em saúde nos territórios.

Durante todo o processo a conversa desenhada foi sendo produzida pelo arte-educador da equipe do SERPOVOS, Ricardo Wagner.

Participaram 18 pessoas da equipe da ESF Baixio das Palmeiras: a enfermeira Keila Formiga, a médica Kássia Fernandes, o cirurgião dentista José Alves Bezerra Filho, a técnica em higiene dental Solange Montielle, os técnicos de enfermagem – Carlos Gomes e Jéssica de Lima Simão, as Agentes Comunitárias de Saúde – Cícera Lilian Bezerra, Fátima Oliveira, Maria José Tavares, Ranielly Martins e Francisca Eneida Lira, a gerente da UBS Ana Raquel Tavares, os analistas de gestão – Albanisa Saraiva, Aparecida do Nascimento e Socorro Nobre, a auxiliar administrativa Maria Albanisa de Oliveira, a auxiliar de serviços gerais Roseane Macedo, e o guarda municipal Daniel Figueiredo.

Também participaram a meisinheira da comunidade Baixio das Palmeiras Lucineide Silva, a raizeira Maria Araújo e o presidente da Associação Romualdo Cleyton Robério; os residentes do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva da Universidade Regional do Cariri (URCA) Cícera Georgia Milfont, André Matos Leal e Caik Ferreira Silva; e representantes da Secretaria de Saúde do Crato – a Secretária de Saúde Milena Brasil, a coordenadora de Atenção à Saúde Deborah Nunes, e as coordenadoras da Atenção Básica Duciele Araújo e Neyana Batista.

Pela Fiocruz Ceará, da equipe do SERPOVOS, participaram a coordenadora Vanira Matos Pessoa, os pesquisadores André Moura e Alissan Martins, e o arte-educador Ricardo Wagner.

Este coletivo totalizou 32 participantes que apontaram diversos problemas, ações e iniciativas para aperfeiçoar a Estratégia Saúde da Família/Atenção Primária à Saúde (ESF/APS), priorizando a valorização da experiência do Jardim Medicinal; o aprofundamento das reflexões sobre a experiência; diálogos sobre a saúde das Populações do Campo, da Floresta e das Águas (PCFA); a discussão sobre a compreensão de inovação e de experiências significativas no âmbito do processo de trabalho na ESF/APS para a qualificação do cuidado em saúde; e o compartilhamento de experiências entre os profissionais e trabalhadores da saúde, pesquisadores e comunidades sobre as práticas de cuidado em saúde na ESF/APS.

O grupo está sistematizando todo o percurso metodológico e os resultados desta iniciativa num Caderno Técnico Popular como forma de trazer subsídios para a aperfeiçoar a ESF no SUS.

Fotos: Acervo SERPOVOS

Um comentário

  1. foi ótimo receber o pessoal da fiocruz na nossa UBS. do romualdo.tratamos do Jardim medicinal conhecemos mas é mas. tenho mas de 40 tipos de plantas medicinal!. grato por essa visita!.👏🙏👍

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