Fiocruz Ceará assina Carta Compromisso para fortalecimento de Rede de Vigilância de patógenos

Uma das lições deixadas pela pandemia da Covid-19 está na necessidade de integrar o conhecimento e a gestão da biodiversidade à vigilância em saúde, para a transformação das políticas ambientais e de saúde. E foi com o intuito de fortalecer ações nesta área que a Fiocruz Ceará assinou, na última quinta-feira (27/10), uma Carta Compromisso em parceria com o Instituto Leonidas e Maria Deane / Fiocruz Amazônia (ILMD) e a Plataforma Internacional para Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde da Fiocruz (PICTIS), com sede em Portugal. O foco da parceria é a criação de uma rede, no eixo Norte e Nordeste, para o fortalecimento e o monitoramento de patógenos circulantes na fauna silvestre, com processos e serviços inovadores, além de transferência e difusão de tecnologia buscando fortalecer a vigilância epidemiológica. 

“Através desta Carta, que regulamenta as relações de parceria programadas para a construção da Rede de Vigilância, esperamos incentivar a realização de projetos colaborativos de ensino, pesquisa, desenvolvimento tecnológico, criação e fortalecimento de projetos que considerem inovação e cooperação nacional e internacional”, afirma José Luís Passos Cordeiro, pesquisador titular da Fiocruz Ceará e representante da Plataforma Internacional para Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PICTIS). 

Cordeiro ratifica, porém, que embora tenha sido assinada recentemente, a iniciativa da Rede já teve início com ações concretas. “Começamos esta parceria através de uma proposta de projeto para submissão ao Edital INOVA/Fiocruz Ceará/FUNCAP, no qual fomos contemplados com financiamento em outubro de 2020, para desenvolver o projeto ‘Detecção de coronavírus em animais silvestres’, coordenado por nós em parceria com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Museu Nacional (UFRJ) e Museu de História Natural do Ceará (MHNC/UECE)”.  

Equipe do Museu de História Natural do Ceará

Nesta ação inicial, o trabalho de campo foi focado em detectar o Sars-CoV-2, vírus causador da Covid-19, em animais silvestres, especialmente em morcegos. A captura dos animais foi feita inicialmente no campus da Fiocruz Ceará, às margens da Lagoa da Precabura, e também na cidade de Pacoti, no Maciço de Baturité, onde está localizado o MHNC/UECE. Com redes instaladas estrategicamente em regiões de alta circulação dos morcegos, os animais são capturados e os especialistas coletam as amostras para a identificação do Sars-CoV-2e de outros vírus e patógenos. “Esta ação torna-se uma valiosa oportunidade de incorporar e desenvolver protocolos de coleta para a identificação de patógenos circulantes na fauna cearense, não só como iniciativa para ampliar o conhecimento da biodiversidade, mas também como ferramenta de vigilância em saúde”, considera Cordeiro. O pesquisador destaca ainda que aproveitar a capacidade instalada, das instituições parceiras desta proposta, também “representa não só a economia de recursos públicos como a valorização do papel institucional no desenvolvimento científico e social desempenhado pela Fiocruz, UECE e Museu Nacional (UFRJ)”. 

Dois cientistas de máscar manipulando instrumentos em ambiente externo
Pesquisadores do MHNC em trabalho de campo.

Segundo o pesquisador, a parceria com o MHNC/UECE é estratégica para o avanço da vigilância de zoonoses, na perspectiva da Saúde Única (One Health), “pois esta instituição, como os demais museus de história natural, é responsável pelo registro e inventariamento da biodiversidade”, portanto em suas atividades naturais está o acesso à fauna e assim representa uma oportunidade valiosa de acessar material biológico de diferentes espécies, representativas de nossa biodiversidade, tanto para o monitoramento da circulação de patógenos na fauna, quanto da emergentes e reemergentes de outras zoonoses com igual potencial pandêmico ao do SARS-CoV-2. 

Desde o início, o projeto já realizou três campanhas de campo, com pesquisas entre os municípios de Eusébio e cidades do Maciço de Baturité, para coleta de material biológicos de animais silvestres, em especial de pequenos mamíferos (roedores, marsupiais e morcegos). “Já na segunda campanha de campo, agregamos novas parcerias, com a Fiocruz Amazonia (ILMD), pesquisadores da Fiocruz Rondônia e do Paraná. Desta forma, neste arranque da Rede agregamos cinco unidades da Fiocruz, dois museus de história natural e duas universidades (UFC e UECE)”, comemora Cordeiro. 

O projeto “Detecção de coronavírus em animais silvestres”, base para a construção desta parceria, já ampliou seu foco e os pesquisadores agora rastreiam outros patógenos, além dos vírus da família coronavírus. “Neste contexto, a parceria com a Unidade de Apoio ao Diagnóstico da Covid-19 (Unadig), no Ceará, é fundamental, ampliando a área de diagnóstico molecular envolvendo outros agentes infecciosos, que não apenas Sars-Cov-2 e dando suporte físico à rede para o armazenamento adequado das amostras biológicas dos parceiros da Rede”, enaltece. 

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