Fiocruz busca melhoria da qualidade da experimentação animal

A experimentação animal dentro da Fiocruz tem recebido especial atenção nos últimos meses. Exemplo disso são as discussões contínuas em busca de profissionalizar a cadeia de produção de resultados em procedimentos com animais de laboratório, o desenvolvimento de novas áreas, intercâmbio de bioteristas entre as unidades e treinamentos das equipes de usuários das áreas experimentais. O pedido veio da Vice-Presidência de Gestão e Desenvolvimento Institucional (VPGDI) para que as unidades que possuem biotério recebam apoio contínuo.

“Para entender o cenário, em 2022 foram realizadas vistorias em todas as unidades da Fiocruz que possuem biotérios. Esse trabalho fomentou um documento de 215 páginas intitulado ‘Diagnóstico da estrutura de Gestão e Infraestrutura dos setores de criação e experimentação animal das unidades regionais da Fiocruz’. Nas visitas, foram realizadas conversas estruturadas com arquitetos, equipes de infraestrutura, veterinários, tratadores de animais e pessoal das áreas de apoio que trabalham à serviços dos biotérios”, informa o tecnologista da Fiocruz Ceará, Giovanny Mazzarotto. Os resultados do levantamento demonstraram uma estrutura de experimentação animal altamente complexa na Fiocruz, que vai desde os costumazes camundongos com cerca de 54 linhagens distintas, coelhos, ratos, hamsters, galinhas, primatas, cães e camelídeos.

Como parte das ações de melhoria, a partir do documento produto das vistorias, Mazzarotto identificou a necessidade de intermediar um treinamento no Rio de Janeiro, com de equipes dos biotérios das Fiocruz Pernambuco, Bahia, Paraná e IOC, em comportamento e utilização de áreas de animais em níveis de segurança 3. Os treinamentos deram início em novembro de 2022, na Fiocruz de Minas Gerais, onde foi ministrada uma oficina de anestesiologia de camundongos de laboratório e dos aspectos regulatórios envolvidos na temática. Nos dias 11 e 12 de maio de 2023, o tecnologista ministrou um treinamento para equipes da Fiocruz Paraná, abordando procedimentos experimentais.

As ações continuam, desta vez dos dias 30 de maio a 1º de junho de 2023, na Fiocruz Paraná. “Está programado um novo treinamento de anestesiologia veterinária para dar suporte aos experimentos que necessitam da técnica de imageamento in vivo. Este será mais um momento importante também para tratar de ações conjuntas de experimentos de Sars-COV2 com animais, demandados por laboratórios da Fiocruz Ceará”, considera Mazzarotto. 

Além disso, em setembro deste ano, com aporte financeiro do CNPq, o tecnologista irá conduzir uma equipe de veterinários e biólogos para receber treinamento em áreas de animais de nível 3 e imageamento In vivo, no Instituto I3S, da Universidade do Porto, em Portugal. Ainda em Portugal, com apoio diplomático da Plataforma Internacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PICTIS), estão previstas visitas técnicas em áreas de manejo de zebra fish e insetários, com o objetivo de atender tecnicamente as necessidades detectadas durante as vistorias nas unidades regionais da Fiocruz.

Avanço para experimentação animal

A maior parte dos biotérios vigentes no Brasil ainda seguem diretrizes da década de 1970 e 1980, no que tange ao gerenciamento da infraestrutura das áreas e concepção no modelo de atuação das equipes. “É preciso ultrapassar esta barreira e fazer uma experimentação animal com a concepção de serviços voltados para os usuários, com equipes fixas e balizadas por um gerenciamento da qualidade de todas as ações que ocorrem dentro das áreas experimentais. Deste modo, a experimentação animal sairá de uma atividade subfinanciada, conduzida majoritariamente por alunos, em um ambiente altamente rotativo, sem padronização das questões mais básicas, para atingir níveis de excelência para albergar ensaios em fases pré-clínicas e vendas de serviços para outros entende federativos e indústria privada, avalia o tecnologista da Fiocruz Ceará.

Saiba mais

De acordo com o cadastro de instituições de uso científico de animais (CIUCA), existem 938 biotérios cadastrados ou em processo de cadastramento, dos quais 129 se localizam na região Nordeste.

Com a mudança do marco regulatório da experimentação animal, iniciado com a promulgação da Lei 11.794 de 2008 que dispõe sobre o tema, o Brasil deixou de ser um país que estava em vácuo regulatório para um país que necessita passar por avanços na melhoria dos seus biotérios, de suas equipes e do modo de pensar na cadeia de experimentação animal que vai desde a produção dos animais até a análise dos dados oriundos de estudos da área biomédica com animais.

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